quarta-feira, 5 de setembro de 2007

já é muito mais

é divertido imaginar o que virá

mas antes de ser menino ou menina
antes de imaginar-te homem ou mulher
o menor planeta "mais grande do universo"
é isso que voce é
meu oasis no meio da correria poluída onde eu vou te enfiar
meu motivo pra querer ir pra praia e entender melhor
o não entender o tamanho do mar
meus olhos que vêem pra dentro
meu umbigo de duas pontas
e um sonho com vento.

é divertido imaginar o que virá
mas de verdade
voce já é muito mais.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

você que vem

Há uns dois meses você começou a vir das minhas dentrâncias.
É pouco tempo? é tempo suficiente? significa alguma coisa?
nós somos nós?
AINDA somos eu e você?
JÁ somos eu e você?
JÁ somos nós?
Nos reconhecemos ou estamos aprendendo a aceitar e conviver?
Há uns dois meses, juntando algo de meu com outro tanto do seu pai,
você se criou a primeira bomba da sua vida.
Explodiu pra se começar e se começou pra ir se criando e depois de se criar vai crescer e depois de crescer sair.
E aqui fora, é mais bizarro do que você imagina beib.
Ao mesmo tempo, intuo ou suponho, que no interior das suas, provisoriamente poucas, células, voce sabe que aqui fora vai ficar ainda mais confuso do que já é.
Talvez voce faça parte do caos que virá.
Eu faço parte do meu.
Talvez eu tenha ajudado a te trazer até aqui justamente por isso.
Talvez tenha sido só um descuido, uma consequencia, um acontecimento.
Isso importa?
Isso nos importa?
Desde que eu soube que voce estava começando um universo aparte na minha barriga
comecei a conversar contigo.
Sou surda, insensível ou egocentrica demais pra já conseguir te escutar.
Ou talvez eu ainda não deva.
Ou talvez voce ainda nada.
Mesmo que voce ainda nada, já participamos juntos, de tudo, o tempo inteiro.
Nem mesmo precisamos acreditar um no outro pra estarmos de fato ligados por um cordão umbilical.
E por mais que eu me esforce em ser delicada na passagem de cada um de nós pelo outro, já somos uma espécie de sina.
Uma porta um pro outro.
Um estado um do outro.
Ainda que completamente estranhos e diferentes, bonequinhas russas caóticas com nossas solidõezinhas uma dentro da outra, beib.
Eu te amo como um quarto que eu não conheço, mas dentro do qual estarei sempre em casa. Mesmo que eu não goste da cor das paredes.

Aqui fora a temperatura vem aumentando, perceptivelmente de ano pra ano.
Não lido bem com isso. Por isso não se assuste se virar uma obsessão da minha vida procurar os lugares mais frescos e úmidos para sobrevivermos.
Aqui fora, um quarto da humanidade tem ou teve ou terá algum estágio de uma doença chamada depressão. Que é como uma insustentável sensação de inutilidade em estar vivo. Ninguém questiona a possibilidade desse indíce crescente estar só provando uma tendência natural da maioria das gentes só não saberem mais o que fazer por aqui...na terra. Não se plantam muitas hortas, não se lava muita roupa, não se toma sol na rua com tranquilidade.
Preferem chamar de doença. Depressão.
Já aprendi a lidar bem com isso. Mas continuo me aperfeiçoando. Não se admire se eu for a mulher melancólica mais feliz que voce conhecer na vida. E como um senso de humor as vezes dolorido.
Aqui fora, é importante continuar rindo beib. Mesmo que nem voce mesmo consiga perceber a sua risada, mantenha-a funcionando dentro de voce.
Nós ainda vamos rir muito.
Rir de chorar e chorar de rir.
E as vezes, guardaremos nossos devidos silêncios.